sábado, 28 de maio de 2016

Livros: "A CIDADE SOBRE OS OMBROS: Trabalho e Conflito no Porto de Manaus (1899-1925)" e "FOLHAS DO NORTE: Letramento e Periodismo no Amazonas (1880-1920)" *

CHE Guevara vai repetir uma frase que saindo de sua boca, torna-se emblemática, marcante. Contudo, vai pra além disto, pois, traz sua verdade e que, por isto, obviamente, não pode ser jamais ignorada. Daí ganhar força dita pelo El Comandante: "Um povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la."

Os livros "A Cidade Sobre os Ombros: Trabalho e Conflito no Porto de Manaus (1899-1925)", já na sua 3ª edição, e "Folhas do Norte: Letramento e Periodismo no Amazonas (1880-1920)", ambos, da Profª Dra. Mª Luiza Ugarte Pinheiro (profª titular do Curso de História da Universidade Federal do Amazonas - UFAM), sendo de importância impar à historiografia regional, precisamente da História do Estado do Amazonas, não nós deixam cometer o erro crasso advertido pelo Comandante CHE.

Na "Cidade Sobre os Ombros", podemos, em síntese, destacar que o universo dos trabalhadores do Porto de Manaus, ou seja, os estivadores (com suas labutas, esforços e conflitos), num período que vai do final do século XIX até os meados da década de vinte do século XX, é discutido na obra, proporcionando a todos conhecer a realidade de um importante segmento da cidade de Manaus - não obstante ser ignorado e colocado à margem da sociedade, pela historiografia oficial, até então. Todavia, a obra da Profª Dra. Mª Luiza Pinheiro, com a perspectiva da História Vista de Baixo, recompõe seu lugar e importância, na medida em que lhe resgata à vida, dando-lhe vez e voz.

Logo, necessário se faz repetir a sinopse da Profª Dra. Maria Antonieta Antonacci (orelha da obra), quando registra que "Aliando rara habilidade na escrita, onde a riqueza de vocabulário associa-se à qualidade na expressão das ideias, com minuciosa e diversificada pesquisa em vários corpus documentários, este estudo... sobre os estivadores na cidade de Manaus, traz significativas contribuições para a historiografia da região, para a compreensão das questões subjacentes à cultura da cidade, como para a atualização de estudos sobre Cultura e Trabalho. A categoria dos trabalhadores portuários de Manaus, com seus modos de ser, suas reivindicações e lutas, seus diversificados perfis e suas instáveis conquistas emerge neste estudo fundamentado no cruzamento de registros e referências de diferentes procedências e com distintos posicionamentos sociais e aportes ideológicos, sob o olhar sensível e crítico da historiadora Maria Luiza no exercício de seu ofício.

Diante da 'modernização' dos equipamentos do porto manauara, que para anular as forças da natureza e construir relações sociais mais controláveis nos procedimentos ligados ao transporte de mercadorias, extinguiu atividades e funções de portuários, a autora procurou os estivadores em vários recantos da cidade, discutindo com a bibliografia e problematizando estudos sobre trabalhadores na Amazônia, convidando-nos ao prazer da leitura e do diálogo."

Profª Dra. Mª Luiza Ugarte Pinheiro**
Portanto, "A Cidade Sobre os Ombros", leva-nos a um olhar em retrospecto de um momento de nosso passado e que, manifestamente, óbvio, conduz à compreensão do tempo presente, de nossa cidade, de nossa gente, enfim, de nossa própria História.


Bom, se "A Cidade Sobre os Ombros" resulta da dissertação da Profª Dra. Mª Luiza Pinheiro, de sua tese de doutorado temos a obra "Folha do Norte: Letramento e Periodismo no Amazonas (1880-1920)".  

O Profº José Ribamar Bessa Freire, no Prefácio da obra, assim se pronuncia: "(...) Um dos tantos méritos do livro é justamente trazer para a boca de cena temas ainda pouco explorados no campo historiográficos, como a fofoca, e indica as fontes que possibilitaram sua abordagem no caso do Amazonas durante o boom da borracha. Geralmente, a fofoca, predominantemente oral, desaparece com seus agentes sem deixar vestígios, mas aqui ela deixa pistas no registro escrito de pequenos jornais, como um sambaqui de mexericos à espera de escavações... A autora destaca o fato de que mesmo com todo o avanço tecnológico e o aumento da oferta de capital motivado pela expansão da economia da borracha, os 'jornais escritos à mão continuaram sendo produzidos, convivendo teimosamente com o periódico impresso'.
Ela chama a atenção para a linguagem coloquial, o estilo informal e despojado que marcaram esses jornais manuscritos, algumas vezes ilustrados artesanalmente e a cores... Conhecimentos novos são produzidos aqui neste livro sobre os jornais de humor que circularam em Manaus neste período. A pesquisa  realizada vem preencher uma lacuna, já que no campo da historiografia da imprensa os jornais humorísticos foram poucos abordados como objetos de estudos. No Amazonas, então, inexistem trabalhos acadêmicos que exploram o tema 'ou mesmo que tenham se utilizado de fontes ligadas a ele'. Aqui, a autora analisa a irreverência e ousadia, a linguagem coloquial e a sátira, que motivaram a perseguição a jornalistas e editores, empastelamento, atentados e prisões, mas que em alguns casos refletirem também o conformismo e o preconceito contra nordestino, negros e prostitutas... A autora também registra o aparecimento, em 1884, em Manaus, da mulher como enunciadora presente no primeiro jornal produzido inteiramente por mulheres - o Abolicionista do Amazonas - que luta pela emancipação do reduzido número de escravos na Província (...)".  

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